NINA TOMÉ
Debruço-me sobre objetos esquecidos, restos que ninguém quis, acervos pessoais com os quais ninguém se importa, lembranças distantes de um passado ainda próximo, e quero preservá-los. A perda, a falta são temas recorrentes, bem como memórias, experiências, traumas e a ficção de mim mesma que tomam corpo e tecem narrativas próprias. Busco dar forma vazada ao vazio da perda, que impõe limites entre a presença e a ausência, a matéria e o nada, a cicatriz e sua ferida. O uso preponderante de materiais de descarte, como retalhos e tecidos rasgados, dialoga com aquilo que falta e aquilo que sobrou.
O gesto de tecer, costurar, bordar, por sua dedicação larga e solitária, ganha dimensão de ode ao tempo e produz outra relação com o fazer. O tempo é tecido na própria noção de memória, minha e dos objetos. A essas imagens adiciono a linguagem escrita. A intenção é suscitar imagens particulares externas ao trabalho que interajam com o observador a partir de suas próprias referências.
Podendo ser observada como imagem ou texto, a escrita me é cara e não pode deixar de ser lida em comunhão com a imagem. Com isso, texto, tempo, tecido, memória e corpo se entrelaçam, se ressignificam e anseiam por uma completude que não pode ser alcançada.
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